terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um nome simbólico - José

Quantos Josés nos ocorrem ou se nos deparam quando ponderamos um minuto apenas, José I de Portugal, José Saramago, José Afonso, José Maria da Fonseca, José Malhoa, José Régio ou até Sebastião José... E muitos mais poderia aludir se fosse esse o propósito. Mas não é!

Se para muitos, trata-se de um nome, ou por simpatia, amizade e proximidade poderá até cognitivamente significar algo, para mim ressalta sentimentos e emoções correlacionados com experiências, da mesma forma que um simples odor nos faz recordar alguém.
Quando no ambiente certo, por hipótese entre Irmãos, me tratam por José, turbilha em mim um misto de orgulho, comoção, honra, mas também humildade por me ser permitido envergar um nome que pelo motivo da sua escolha, perpetua ideias e projectos que objectivo ser capaz de não mais largar.
É segurança. Carinho. Vaidade. Dissabores e alegrias. Fome e fartura. Depressão e dinamismo. É esforço, é sacrifício, é morte! Não é morte no sentido de finalizar, desaparecer ou perecer. É transformar, renascer, guardar o que de melhor pode ser lembrado e melhorar, melhorando a experiência já tida e aplicá-la no desenvolvimento de alguém que espera de nós, apenas tudo. Alguém que não pediu para nascer, mas no momento, exige ser criado. Alguém que pela sua inocência e desconhecimento da maldade, dos vícios e do interesse, confia em nós de uma forma inatingível por palavras. Uma confiança inabalável demonstrada ao acaso por um abraço, um beijo, um olhar terno por quem nunca podemos cometer o maior dos crimes do código fraternal: a desilusão. 

De facto, neste desarticulado de palavras, não pretendo centrar a atenção num José, mas, em três. 
Um José do passado que define um dos pilares da construção do que sou. Que noutro tempo e noutros valores insurgiu-se contra alguns princípios e preconceitos pré-estabelecidos e tentou criar bases de convergência ideológica no seio do seu grupo de interesse. Falo do meu Avô, Pai do meu Pai, que cresceu a ser chamado de José Diogo Salvação. Homem aos 11 anos quando por perda do seu Pai, responsabiliza-se pela ajuda à família e desenvolve uma capacidade e talento para o trabalho multifacetado. Ainda assim e compreendendo a relevância do conhecimento para a progressão da sua vida, investe no seu próprio desenvolvimento até à idade da sua morte. Paralelamente, tenta e atinge alguns importantes objectivos, no auxílio conceptual e indirecto aos demais semelhantes. 
Um outro José, que definindo outra e a mais importante das minhas pedras basilares, realizou a sua construção através do esforço e sacrifício, tendo-me oferecido a sua felicidade e sua vida em troca da certeza que um dia eu o reconheceria. Falo do meu Pai, José António de Oliveira Salvação. Tratou-se de um homem que preteriu os interesses pessoais, ou aliás substituiu-os pelo desenvolvimento do meu ser, envolto numa espiral de atribulações matrimoniais motivados por uma doença crónica da sua companheira, minha Mãe. Nunca investiu muito na sua carreira nem tão pouco era um homem de assumpções de risco. Morre cedo, aos 53 anos com a sensação de tarefa cumprida, por ocasião da minha derradeira edificação como homem de família e como profissional. 
O terceiro José é aquele que qualquer determinação e persistência nunca serão inglórios nem suficientes, e para o qual devo dirigir toda a competência que me for permitido reunir na esperança de construir alguém forte no sentido mais lato da palavra. Não se trata de uma acção, mas de um processo de constante desenvolvimento, preparação e atenção não sendo porém uma preparação para a vida, mas a própria arte de viver em si. 

Falo naturalmente do meu primogénito, José Delgado Salvação, que por coincidência ou não, além do Nome apresenta ao mundo as mesmas iniciais do meu Avô: JDS. 
É uma das razões de estar aqui hoje, ou é o conjunto de razões, a certeza e o objectivo, a determinação e persistência. É alguém que merece o meu empenho na melhoria, no desenvolvimento, na evolução de novos saberes e de novas formas de saber. Alguém cuja existência é motivo bastante para merecer que se construa um fio condutor entre a experiência que espero adquirir, e a sede de viver própria de uma criança. 
Para um dia poder dizer... Eu aprendi! 

Autor: José

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Na Morada(o) da Rosa



O meu tempo não é o vosso tempo, a minha realidade não é a vossa realidade, embora estejamos todos no mesmo tempo, assistindo à mesma realidade. 
Se o meu tempo sendo o mesmo tempo é diferente do teu tempo e, se o teu tempo sendo o mesmo é diferente de outro e todos assistimos à mesma realidade, o que para cada um de nós é uma realidade diferente, teremos que concluir que os nossos tempos são diferenciados, sendo todos os tempos do mesmo tempo relativos, tornando a realidade irreal por não existir uma realidade una. 
Sendo a realidade diferenciada no tempo e no espaço torna-se um sonho e cada um de nós vive esse sonho em tempo diferenciados, o que não obsta que nos expressemos sobre eles, vivamos com eles e lutemos por eles, em tempos e realidades diferentes; o que torna o caos uma infinita simbiose trinária, aparentemente ordenada e conexa. Um cubo exponencial de uma única realidade: a Rosa. Que como Hermes Trismegisto é possuidora das três partes da filosofia universal. 
27-125-343-729-1331 ∞



Autor: Raquel Ben Pandira

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lar Eterno

Deuses! Deuses!
Como é bela a terra ao anoitecer.
Que misteriosas brumas sobre estes pântanos.
Quem vagueou nas brumas, quem sofreu profundamente antes da morte.
Sabe-o!
Quem voou sobre esta terra sobrecarregada para além das suas forças.
Sabe-o!
Aquele que está cansado.
Sabe-o!
E abandona sem mágoa os vapores da terra.
Os seus montes e rios.
Abandona-se com beleza no coração, nas mãos da vida,
sabendo que só ela pode trazer o seu fim. 
Agarro-me aos cavalos mágicos,
e vou para diante.
Para além dos muros de pedra que cercam o horizonte.
Esconde-se um lugar sagrado,
Onde serei feliz.


Sabes?! 
Vou-te dizer agora.
A noite terá seu fim, e o seu recomeço… 
E todas as lágrimas continuarão ser doces.
Quero que saibas o meu nome. 
Para que me chames de volta se me for embora. 
Porque sei que tens cordas no peito,
como harpas, onde a escuridão um dia tocou 

Escuta! 
Escuta agora o silêncio sem temor. 
Aí! Com a tua alma descalça sobre areia… 
Escuta e goza esta quietude morna da ainda vida. 
Olha em frente
Para além dos muros de pedra. 

Eis o meu Lar Eterno!
Que me deram como recompensa dos dias.
A terra de fogo, a vinha que trepa em direcção ao ceú. 
Eis o teu Lar! 
Adormecerás com um sorriso nos lábios. 
O sono dar-te-á força, e falarás palavras de sabedoria. 
As cordas no teu peito voltarão a tocar. 

Mas já não será a escuridão a deslizar na tua alma.
Será a Luz de todos os segredos. 

Autor: Asherah

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Serpente Vermelha

A SERPENTE VERMELHA - Ofiuco ou o Portador da Serpente (entre Escorpião e Sagitário)  

Ela, vermelha, a serpente, viera a mim com o seu Portador, queria novas do caminho.
Uma das minhas falas disse:
- O caminho é curvo, próprio para serpentes.
Outra das minhas falas disse:
- Depois há o círculo…
E uma terceira fala disse:
- Nunca passarás do ponto de partida.
O ofiuco saiu pensativo.
Serpentes são a minha especialidade.
Ísis que o diga:
- Onde existe vida está a serpente.
Madalena que o diga:
- Onde existe vida está a serpente.
A Virgem Negra que o diga:
- Onde existe vida está a serpente.
A Mulher Escarlate que o diga: 
- A serpente sou eu. 

Conheci Janus em Malkutt, 
Senhor de todas as chaves, 
Guardião de todos os caminhos; 
Conheço a Árvore da Vida, 
Todos os seus frutos, 
Conheço as cinquenta e duas portas e trinta e duas chaves, 
Eu saio e entro e o que está por detrás delas não me é desconhecido. 
Conheço todas as letras e todos os números 
E tanto estou em Nadir como em Zénite. 
Sou o Céu, sou a Terra, sou o Oito, 
Sou Filha do Senhor, reflexo da sua obra. 

Em noites de secretos desejos deslizo pelo teu corpo, 
Como um enigma por decifrar, 
Enrosco-me, sufoco-te, engulo-te, 
Durmo no fundo do teu cerne 
Como se fosse o meu mundo subterrâneo. 
Sou o macho, sou a fêmea, sou o útero e o falo, 
Sou a origem das noites, desapareço e renasço. 
Dispo-me e renovo-me, 
Dou a vida à vida, 
Sou a Kundalini enroscada 
E ascendo a todos os chacras. 
Sou o eixo do mundo, 
Guardiã do Nadir, subo a Zénite e passo por ele 
Por caminhos imprevisíveis. 
Sou o Sol e a Lua dos teus dias e das tuas noites, 
Sou o infinito imaginário onde tudo se cria, 
Guardiã dos saberes, das ciências e das artes, 
Sou o fogo e o frio que arrepia a tua espinha, 
Sou amor em toda a sua divindade. 
Abarco a criação num círculo contínuo quando mordo a minha cauda, 
Sou a roda do Universo, 
Sou a serpente emplumada, o orvalho das manhãs, a água que te beija. 
Senhora de todos os venenos, a morte dos desejos; 
Dispo-me com facilidade, 
Aqueles que amo morrem em mim, renascem em mim. 
Vivo no ventre de Gaia, 
Onde se processa toda a alquimia, 
O Sol nasce da minha boca para aquecer o meu corpo 
E a Lua é o meu reflexo no ventre da Terra. 
Sou amante de Lúcifer, 
Filha do Senhor 
E só Ele conhece todos os meus desígnios.


Autor: Raquel Ben Pandira