sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Solstício de Inverno 2012

Solstício de inverno.
Aqui estou novamente a festejá-lo
À fogueira dos meus antepassados
Das cavernas.
Neva-me na lembrança,
E sonho a primavera
Florida nos sentidos.
Consciente da fera
Que nesses tempos idos
Também era,
Imagino um segundo nascimento
Sobrenatural
Da minha humanidade.
Na humildade
Dum presépio ideal,
Emblematizo essa virtualidade.
E chamo-lhe Natal.

Miguel Torga (1982)

sábado, 15 de dezembro de 2012

104.º Aniversário da Respeitável Loja Estrela D'Alva

O nome “Estrela d’Alva” foi dada pela primeira vez em Portugal a esta Loja, em Coimbra, no ano de 1871 e manteve a sua actividade até 1873.  
Mais tarde, em 1908 retomou a sua actividade com o n.º 289, o que indicava que era regular e estava inscrita no Grande Oriente Lusitano. Em 1919, ao Vale de Algés, instalou-se em Lisboa trabalhando regularmente e mantendo o Rito Escocês Antigo e Aceite. Em 1937, fez uma incursão pelo Rito Francês. Finalmente, em 1945 adoptou definitivamente o REAA, mantendo a sua actividade ininterrupta até à presente data.  
A sua existência foi quase toda passada na clandestinidade, no entanto, manteve sempre o seu trabalho e as colunas erguidas até ao 25 Abril de 1974. Após, esta data histórica para o povo português, apresenta-se a trabalhos ao Grande Oriente Lusitano e em 11 de Dezembro de 1974, neste Palácio, realiza a primeira sessão em Liberdade com a presença de 16 Obreiros que vinham todos da clandestinidade.  
Tem como divisa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, como desígnio: Pátria e Liberdade e como timbre: ‘’Augusta, Benemérita e Respeitável Loja Capitular, Areopagita e Consistorial Estrela D’Alva n.º 289 sob os Auspícios do Grande Oriente Lusitano”.  
Nestes anos de trabalho existiram múltiplos acontecimentos, como a Implantação da Republica, Estado Novo e a sua Ditadura, a privação da Liberdade e dos Direitos Humanos, a clandestinidade, uma guerra colonial, o alvorecer da Liberdade em Abril de 74, entrelaçando-se com a história do Grande Oriente Lusitano e da Maçonaria Portuguesa.  
Muitos dos seus Obreiros, abnegadamente, com empenho, com sacrifício da sua vida, mesmo correndo vários perigos com a ditadura, entregaram-se à causa da Maçonaria e nunca hipotecando sua cidadania e a defesa intransigente dos Direitos Humanos, vieram a exercer vários e importantes cargos em Loja e nos vários órgãos Grande Oriente Lusitano, salientando aqui os mais recentes:  
- João Carlos Costa, VM e Órgãos do GOL de 1919 a 1931. 
- Raul Weelhouse, VM e Órgãos do GOL de 1931 a 1944. 
- Luis Bettencourt, VM e Órgãos do GOL de 1944 a 1988. 
- José Pascoal Gomes, 55 anos de Iniciado, Vários Órgãos GOL, Social, Obras Palácio. 
- António Reis, Grão Mestre GOL de 2005 a 2011. 

Todavia, este caminho não é fácil de seguir, durante o percurso da Maçonaria em Portugal houve perseguições, condenações à fogueira, morte, ditaduras, castramento da Liberdade, privação dos Direitos Humanos, e muitos Maçons pagaram com a sua própria vida a defesas destes ideais e valores.  
Desde 1727 que há Maçonaria em Portugal e o Grande Oriente Lusitanos existe desde 1802, a título de exemplo, vamos nomear alguns entre muitos:  
1742 - Jonh Coustos – denunciado à Inquisição, ele e vários membros da Loja são presos, torturados e condenados; 
1817 - Gomes Freire de Andrade – e vários Companheiros são presos, torturados, condenados, conduzidos ao cadafalso e fogueira; 
1820 – Com o retorno do absolutismo, os maçons são perseguidos, encarcerados e executados; 
1921 – Machado Santos, António Granjo, Carlos Maia - Um comando monárquico, fazendo-se transportar na “camioneta fantasma” durante a “noite sangrenta” procede a liquidações de proeminentes figuras republicanas. 
1929 – O Palácio Maçónico é assaltado pela Guarda Republicana e Policia – nova e grande perseguição;
1935 – O GOL resiste à lei de proibir “associações secretas” passa à clandestinidade; 
1937 – O Palácio Maçónico e confiscado e entregue à fascista Legião Portuguesa;  
Talvez, agora, compreendam melhor a ameaça que paira na actualidade de algumas vozes que querem que os maçons se declarem como tal, exigência essa só feita aos maçons, esqueçam propositadamente, as restantes organizações, ordens, clubes ou religião. Com esta intenção reiterada, seria ferido o principal direito dos cidadãos: o direito à livre associação e descrição.  

Também, neste caminho não pode ser esquecido o papel, actividade e acção de muitas mulheres que desde sempre lutaram por ideias de igualdade, direitos cívicos, direitos sociais, direito ao trabalho, direito ao salário, essas mulheres maçons, estiveram na primeira linha do combate e ombrearam com os homens maçons na luta por estas conquistas. 
Muitas delas iniciaram o seu caminho sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano, com destaque, entre muitas outras: Carolina Beatriz Ângelo, Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete, Maria Veleda. 
Sabemos até que Carolina Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete foram depositárias da confiança de seus pares revolucionários a quem estes confiaram o segredo da conspiração republicana. Assim, Carolina e Adelaide coseram as primeiras bandeiras republicanas, que haveriam de ser desfraldadas após a vitória da revolução, ondulando as cores verde e rubra que até hoje permanecem como símbolo nacional. 

Quase certo, que as notícias que vos chegam, através dos órgãos de comunicação social são bem diferentes desta prestigiante história. Só vos chegam as notícias ou de possíveis maçons que tiveram um comportamento ao arrepio do que agora tiveram conhecimento ou de “maçons” com atitudes e acções criminosas, mas a história não pode ser apagada ou reescrita. A actividade da Maçonaria em todos os domínios da vida nacional é notável. Devem-se-lhe as grandes vitórias das ideias progressistas: a abolição da pena de morte e da escravatura, a criação de escolas primárias e escolas secundárias técnicas, a generalização da instrução nas colónias, a criação de orfanatos, a luta contra o clericalismo e a separação do Estado da Igreja, o embrião da laicização das escolas, a criação de associações promotoras da instrução e da assistência segundo novos modelos, a campanha a favor da obrigatoriedade do registo civil, promoção e divulgação dos grandes vultos de Portugal, as leis que autorizam o divórcio, a reformulação do código civil e comercial … Deve-se-lhe até a criação do sistema de jurados na justiça.   
Com certeza, que há maus maçons, alguns que escaparam à rigorosa selecção que é praticada, alguns que por interesses alheios e contra os valores e princípios dos bons costumes, sim há, poucos entre muitos, mas em quase 300 anos de Maçonaria moderna esses maus maçons serão escorraçados do Templo e mais cedo ou mais tarde serão afastados e apontados como os maus companheiros.  

Os maçons, procuram a verdade universal, sobrepõem a espiritualidade ao materialismo, defendem a liberdade e os direitos humanos, a intimidade e convicções pessoais, solidários com os desfavorecidos, querem a fraternidade entre os homens, tolerantes, de isenção política e religiosa, em democracia anseiam a paz entre os povos, defendem a natureza e o universo, buscam o aperfeiçoamento individual na construção do seu próprio templo interior.  
Amados e odiados, temidos e cobiçados, os maçons desde sempre foram perseguidos, e desde sempre resistiram às maiores atrocidades cometidas contra si, perpetuando no tempo a sábia espiritualidade, as colunas dos seus Templos e irradiaram a Luz dos seus valores no Mundo. 

Desde 1908, a Respeitável Loja Estrela D’Alva conta com 104 anos de trabalho regular e apesar de várias perseguições o testemunho foi passando por gerações, numa cadeia de elos formada por homens de todas as condições, na senda dos antigos usos e costumes da Ordem maçónica, em busca do aperfeiçoamento moral e intelectual do individuo e da sociedade, na procura de Verdade, Honra e Progresso e na transmissão dos valores de Tolerância, Solidariedade, afirmando-se contra a injustiça, a intolerância social e religiosa, a corrupção, a falta de ética e moral, as desigualdades sociais e enaltecendo o Mérito, o Trabalho e a Paz. 

Autor: Júlio Verne

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Comemoração do 104.º Aniversário da Estrela D'Alva

A Loja Estrela D’Alva comemora mais um aniversário, 104 anos de trabalho consecutivo, sem desfalecimento, mesmo em situações de grande dificuldade e clandestinidade na ditadura do Estado Novo. Desde 1908 a Loja mantém as colunas erguidas, irradiou Luz em prol da Maçonaria desfraldando a bandeira da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
Nos próximos dias de Dezembro, 15.12.2012, sábado e 17.12.2012, segunda-feira, realizaremos as festividades alusivas a tão importante data da nossa memória.

15.Dez. 2012 – Palácio Maçónico – Lisboa
- Sessão Solene de Comemoração do 104.º Aniversário
- Visita ao Palácio Maçónico e Museu Maçónico
- Mostra de Pintura da artista plástica Fernanda Picciochi e Luzia Lage
- Banquete Fraternal 
- Momento Musical e de Poesia

17.Dez.2012 – Biblioteca-Museu República e Resistência – Grandella – Lisboa
- Conferência BOCAGE, Um Maçom no Seu Tempo pelo escritor Jorge Morais 


Fernanda Picciochi 
Frequentou o curso da antiga escola António Arroio onde teve como professor de desenho, o mestre pintor Abel Manta.  
Mais tarde, na Sociedade Nacional de Belas Artes, frequentou os cursos de Pintura, onde teve como professores os pintores Jaime Silva, Paiva Raposo e Gonçalo Ruivo e em Desenho, com o professor e escultor Quitino, assim como um curso de Estética e Teorias de Arte Contemporânea ministrado pelo professor Dr. David Lopes.  
Durante os anos de frequência dos cursos na SNBA, entrou em vária exposições colectivas tanto nesta instituição como nas Galerias Pedra Rubra, Movimento Arte Contemporânea em Lisboa e em Braga na Galeria Mário Sequeira. 
A convite da Galeria da Câmara Municipal de Coimbra realizou uma exposição individual. Frequentou um curso de desenho ministrado pelo Mestre Lagoa Henriques e pelo pintor José Mouga no Instituto de Artes e Ofícios da UAL de Lisboa. Após esta formação continuou a frequentar o atelier do Mestre Lagoa Henriques durante dois anos, onde se dedicou ao desenho a pastel.
Frequentou o curso temático de desenho, composição e teoria da cor sob a orientação do pintor A. Tavares. Na Next Art frequentou o curso de aguarela.


Luzia Lage
Nasce em Outubro de 1962, em Lisboa. 
Completa o Curso de Desenho e Pintura no IADE, ao mesmo tempo que frequenta o Curso de Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. 
1º Prémio de Imprensa Personalidade Feminina Portuguesa do Ano 2009, na Categoria de Artes Plásticas, por votação Nacional, sendo as outras duas nomeadas, a pintora Paula Rego e a pintora Lourdes Castro.Obra de Dimensão Pública: Painel tridimensional em azulejo - "Mães de Água", CREL; Painel - "Nascimento da Cidade", Edifício Imperador; Painel comemorativo para a inauguração da Casa do Artista, Lisboa, em parceria com os pintores: Eduardo Alarcão, José Cândido, Maria Amaral e Fernando Faria. 
Filme realizado por Álvaro Queiroz - "O Artista no seu Atelier" - Registos para o Arquivo Nacional da Imagem em Movimento, Acervo da Cinemateca Portuguesa Escreveram sobre a sua obra: Paulo Morais, Rodrigues Vaz, Manuela Martins, Albertina Estrela Guerreiro, Pedro Câmara, Júlio Quaresma, Lídia Jorge, Ezequiel Marinho, Eugénio Lisboa, Mário Nunes, Fernando Pinto do Amaral, Fernando Carvalho Rodrigues, Edgardo Xavier, Paulo Brandão e Rocha de Sousa. Está representada em várias colecções em Portugal, Alemanha, Reino Unido, França, Suiça e Austrália.


Jorge Morais
Escritor, n. 1955. 
Dedica-se em exclusivo à investigação e à publicação ensaística, nomeadamente no âmbito dos estudos maçónicos e dos estudos ingleses com incidência na História portuguesa dos séculos XIX e XX. Publicou, entre outros, os seguintes trabalhos: Sobre a instauração da República em Portugal:
“O Desembarque” (estudo sobre a partida da Família Real para o exílio, integrado na obra O Embarque – Um Dia na História de Portugal), Editorial O Acontecimento, Lisboa, 1990;
Com Permissão de Sua Majestade (ensaio sobre a participação da Família Real inglesa e da Maçonaria no 5 de Outubro), Edições Via Occidentalis, Lisboa, 2005;
Regicídio – A Contagem Decrescente (investigação sobre a preparação do assassínio do Rei D. Carlos e do Príncipe Real), Edições Zéfiro, Sintra, 2007.
Os Últimos Dias da Monarquia (ensaio sobre o Pacto Liberal de 1908 e o Reinado de D. Manuel II, com prefácio do Prof. Doutor António Reis), Edições Zéfiro, Sintra, 2009
Outros ensaios:
“Um Texto do Passado” (comentário à doutrina de Como se Levanta um Estado, de Oliveira Salazar), Edições Golden Books, Lisboa, 1977
Aventuras Trans-Ideológicas – Alteridade e Transgressão (ensaio sobre a deriva política de Ezra Pound), Edições Fi, Lisboa, 1997
Bocage Maçon (estudo bibliográfico sobre o Iluminismo Maçónico em M. M. Barbosa du Bocage, com prefácio de António Valdemar), Edições Via Occidentalis, Lisboa, 2007 (Prémio Bocage de Ensaio, 2006)
“Memória do Absurdo” (estudo sobre os últimos dias do Estado Português da Índia, em prefácio à obra Enquanto se Esperam as Naus do Reino, de João Aranha), Esfera do Caos Editores, Lisboa, 2008
Rua do Ácido Sulfúrico / Patrões e Operários: Um Olhar Sobre a CUF do Barreiro (ensaio sobre as políticas sociais da Companhia União Fabril entre 1907 e 1974), Editorial Bizâncio, Lisboa, 2008
As Obras de Misericórdia (estudo sobre as origens, a doutrina e a simbologia das 14 obras das Casas de Misericórdia portuguesas), Texto Principal, Lisboa, 2011.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fernando Valle

Médico, maçon e político português, Fernando Baeta Cardoso do Valle nasceu a 30 de Julho de 1900, em Cerdeira, no centro de Portugal, e morreu a 27 de Novembro de 2004, em Coimbra, aos 104 anos.

Fernando Valle pertencia a uma família abastada, uma família de médicos com ideais republicanos, que, quando ele tinha dois anos, se mudou para Côja, no concelho de Arganil, onde iria passar toda a sua vida e a exercer medicina.
Aos 23 anos, tornou-se maçon ao entrar para o Grande Oriente Lusitano através da Loja "Revolta". Escolheu para nome de iniciado Egas Moniz, por este ser para si um exemplo de lealdade.
Após a instauração do Estado Novo tornou-se opositor do presidente António Oliveira Salazar, personalidade que considerava "uma coisa má" para Portugal. As suas opções políticas levaram a que, em 1949, fosse demitido do posto de médico municipal, tendo sido acusado de ser desafecto ao regime. Isto porque participou na campanha presidencial de Norton de Matos. Mesmo assim, em 1958, apoiou a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
Ingressou ainda nas Juntas de Acção Patriótica, o que levou a que fosse preso, entre 27 de Abril e 29 de Junho de 1962, na Cadeia do Aljube.
Já em 1971, o regime, então liderado por Américo Thomaz e Marcello Caetano, tentou afastá-lo do Hospital da Misericórdia de Arganil. No entanto, uma manifestação de mulheres foi organizada para impedir que tal sucedesse e o afastamento de Fernando Valle foi evitado.

Da sua actividade cívica destaca-se, entre outras, a fundação da Sociedade Recreativa Argus, de que resultou mais tarde a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Argus, juntando todas as associações existentes em Arganil.

Fernando Valle manteve-se sempre ligado à política e, em Abril de 1973, participou, de forma clandestina, na reunião fundadora do Partido Socialista (PS). O encontro decorreu em Bad-Munstereifel, na Alemanha, e contou também com a presença de Mário Soares.
Apesar de ter continuado ligado ao PS até à data da sua morte, Fernando Valle recusou sempre cargos políticos. Só abriu uma excepção para ser governador-civil de Coimbra, um cargo que desempenhou entre 1976 e 1980 e logo após a «Revolução dos Cravos» foi presidente da comissão administrativa da Câmara Municipal de Arganil.

Fui galardoado com a Ordem da Liberdade (Grande Oficial) e Ordem de Mérito (Grã-Cruz).
 
Após falecer a 27 de Novembro de 2004, Fernando Valle foi sepultado em Côja, tendo assistido ao funeral várias personalidades das mais diferentes áreas culturais, cívicas e políticas.

Sentido voto de pesar aprovado por unanimidade na Assembleia da República

Após ter heroicamente resistido até aos 104 anos, faleceu o Dr. Fernando Valle. 

Deixou-nos um cidadão, um homem e um profissional que atravessou o último século e pôde testemunhar ainda os primeiros anos do século presente. Raros seres humanos terão deixado, após si, a imagem de bondade, solidariedade, amor pelo semelhante, nobreza de carácter, coragem cívica e dignidade em todos os actos da sua vida que Fernando Valle nos deixou.

Foi um médico distinto, que exerceu a medicina como um sacerdócio. Foi talvez o exemplo mais frisante, se não único, do médico que empobreceu a exercer medicina. Aluno brilhante da Universidade de Coimbra, renunciou à possibilidade de uma carreira académica para curar doentes em Arganil, Coja, e outras povoações da serra do Açor. De dia e de noite, chovesse ou soprasse o vento, a pé ou a cavalo, lá ia o Dr. Fernando Valle aonde o chamassem para curar doentes, fazer partos, pequenas cirurgias ou mesmo curar almas, que tudo isso tinha de saber fazer o médico de família de então. 
Não levava dinheiro a quem o não tinha. O mais das vezes prodigalizava os medicamentos. Se os não tinha, deixava, não raro, à cabeceira do doente o necessário para comprá-los.
 
Nos intervalos da profissão, exerceu sempre uma corajosa acção cívica de oposição à ditadura, batendo-se pela liberdade e pela democracia. Por isso foi preso e perseguido.

Membro do Grande Oriente Lusitano, do qual, por modéstia, nunca quis ser Grão-Mestre, era, ao morrer, o mais antigo maçon do mundo. E decerto um dos mais fiéis e permanentes intérprete dos valores por ele perfilhados. Viveu toda a sua vida, sincera e convictamente, em consonância com eles.

Fundador do Partido Socialista, e há alguns anos seu Presidente Honorário, viveu o socialismo como ele deve ser vivido: como um humanismo. E fez da sua vida uma das referências mais exemplares para quem busca a perfeição cívica e ética. Viveu verdadeiramente como um santo laico.
Deixa-nos uma maravilhosa recordação. Tentemos imitá-lo e merecê-lo.

Na sua reunião de 2 de Dezembro de 2004, a Assembleia da República aprovou um sentido voto de pesar, endereçando à família enlutada, ao Partido Socialista e à legião de admiradores do Dr. Fernando Valle o seu mais sentido pesar.


Autor: Júlio Verne

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Internato S. João - Lisboa e Porto

O Asilo S. João, instituição de beneficência criada em Lisboa em 1862, pela Maçonaria, mais rigorosamente pela Confederação Maçónica Portuguesa, cujo Grão-Mestre era José Estevão Coelho de Magalhães, a fim de receber 20 raparigas que se achavam recolhidas no Asilo dos Cardais de Jesus, dependente das Irmãs de S. Vicente de Paulo (Irmãs da Caridade) e que, com a expulsão destas de Portugal, tinham ficado ao abandono. 


Pertença sempre da Maçonaria, foi obtendo importantes doações de beneméritos, entre eles, o edifício onde hoje está instalado na Travessa do Loureiro, n.º 8 da numeração actual, outrora n.º 10. 


O número de asiladas, todas elas órfãs, chegou a atingir 80 raparigas, proporcionando-se-lhes, até à idade de 18 anos, alimentação, vestuário, educação laica, incluindo instrução literária, trabalhos manuais e ensino profissional. 



No Porto, é também criado pela Maçonaria, em 1891 a instituição de beneficência Asilo de S. João, na Rua da Alegria, n.º 342, a fim de receber rapazes órfãos.
 
São hoje Internatos de S. João, mantêm a sua actividade quer no Porto, quer em Lisboa com os mesmos fins e propósitos da sua criação, acolhendo crianças em riscos, dando-lhe abrigo, educação e preparando-as para a inserção na sociedade e na vida activa.

In Dicionário de Maçonaria Portuguesa - A. H. de Oliveira Marques

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Biblioteca do Grémio Lusitano

A Biblioteca do Grémio Lusitano foi fundada em 1873, numa das salas do Grémio quando ele estava instalado na Rua Nova do Carmo, passando em 1880 para a sede actual, no Palácio Maçónico. Foi organizada por Henrique Jerónimo de Carvalho Prostes (1844 – 1890), jornalista e escritor, cônsul de Portugal no Sião e em Génova, onde morreu.
Como então informava o Boletim do Grande Oriente Lusitano Unido – Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa, «os irmãos estudiosos e aqueles que verdadeiramente se interessam pelos destinos desta instituição universal, poderão já ali encontrar um avultado número de subsídios para enriquecer o seu espírito» (nº 6, II Série, Setembro de 1873, p. 94).

Foi enriquecida ao longo do tempo – o próprio Boletim dava conta de muitas das publicações recebidas – mas também conheceu diversas vicissitudes, ao sabor da situação política. Os assaltos, pilhagens e destruições que o Palácio Maçónico sofreu durante o sidonismo e após o 28 de Maio de 1926, culminando com a proibição da Maçonaria, em 1935, a dissolução do Grémio Lusitano e a espoliação dos seus bens, afectaram-na dramaticamente, acabando por liquidá-la e por dispersar o seu espólio.

No entanto, depois do 25 de Abril de 1974 foi possível recuperar muitos dos livros que tinham sido confiscados e depositados no ministério das Finanças. Também se tem registado diversas doações e aquisições que muito a enriqueceram.

Dessa forma, a actual Biblioteca, para além de bibliografia geral e de temáticas afins, é constituída por um fundo considerável de obras maçónicas portuguesas, antigas e modernas: monografias, publicações periódicas, folhetos e panfletos, dos séculos XIX e XX. 
Também existem muitas obras estrangeiras, a partir do século XVIII, com destaque para boletins, revistas e anuários de Obediências de todos os continentes com as quais o Grande Oriente Lusitano mantinha relações, e que constituem um acervo único em Portugal e pouco vulgar no mundo.  
Fazem ainda parte da Biblioteca várias obras portuguesas e estrangeiras mais modernas.
In Dicionário de Maçonaria Portuguesa - A. H. de Oliveira Marques