terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Alberto Bargossi

Pela enorme amizade que me liga à “Família Bargossi” desde 1989, é difícil encontrar os adjectivos, as palavras correctas para falar desta ilustre e fraterna Família italiana. Foram até ao momento, e na sequência da minha ida regular à Universidade de Bolonha desde 1989, mais de vinte anos de contacto e de conhecimento mútuo, de troca de ideias e de experiências vividas e sofridas que me levaram à procura contínua de uma aprendizagem de valores morais, de ética, de tolerância, de fraternidade, de solidariedade, de justiça e de firmeza de carácter e me fizeram sentir preparado para me iniciar nesta Augusta Ordem, com o objectivo de adquirir uma nova “missão” para a minha vida. Assim, na Universidade de Bolonha encontrei mais do que um complemento à minha formação de médico. Adquiri mais do que conhecimentos de novas tecnologias na área da terapêutica e do diagnóstico da Aterosclerose que, de forma inovadora, vim a introduzir no nosso país. Na Universidade de Bolonha encontrei uma Família de acolhimento que viria a promover profundas mudanças no meu modo de pensar.

A escolha do meu nome simbólico encerra uma dupla homenagem; à Família Bargossi, na pessoa de Nazario Sauro Bargossi (Pai) e ao seu filho Alberto Mario Bargossi.

Nazario Sauro Bargossi (1919 - 1988) nasceu na cidade de Forlì em 1919, na região italiana de Emília - Romana, cidade com uma extraordinária herança política, cultural e de resistência antifascista. Na cidade de Forlì nascera também Aurelio Saffi (1819 -1890), figura que inspirou Nazario Sauro Bargossi e que em grande parte moldou o seu espírito revolucionário.
Aurélio Saffi, foi um político activo durante a unificação italiana e figura proeminente do “Radicalismo Republicano”. Foi discípulo de Giuseppe Mazzini (1805 - 1872), líder do movimento do “Ressurgimento Italiano”. O Professor Giuseppe Mazzini defendia um projecto de unificação italiana “vindo de baixo”, ou seja, de cariz popular, em oposição à elite liberal – conservadora, monárquica liderada por Camillo Paolo Filippo Giulio Benso, Conde de Cavour, (1810 – 1861). Mazzini era grande devoto da unificação italiana e foi membro da sociedade dos carbonários italianos que, a exemplo dos jacobinos franceses na época da Primeira República da França (1792 - 94), esperava que a futura unificação italiana resultasse de um grande levantamento popular, se bem que estimulado e dirigido pela intelligentsia italiana. O mundo de Giuseppe Mazzini, bem ao contrário do de Cavour, era o dos conclaves clandestinos nas “catacumbas republicanas”, dos ”pátios” das universidades, das redacções dos jornais radicais, frequentados por escritores, por advogados, por estudantes e professores, que seguiam Mazzini com devoção apostólica, certos da acção definitiva do “povo”. O “Mazzinismo” não deve ser visto apenas no seu contexto peninsular italiano, porque Mazzini era adepto da causa “Europeia”, ou seja, de uma “Europa Unificada”. Imaginava uma confederação de estados europeus convertidos ao “Republicanismo Popular”.

Voltando à Família Bargossi, o pai de Nazario Sauro Bargossi, Amilcare Bargossi, nasceu na cidade de Faenza (região Emília - Romana) e foi chefe de estação dos Caminhos de Ferro italianos, tendo viajado e permanecido em inúmeras cidades italianas ao longo do exercício das suas funções profissionais. Foi também perseguido pelo regime vigente, fascista. Foi sempre fiel aos ideais de Liberdade, Igualdade e Universalidade de Mazzini e do Republicanismo Radical. Foi voluntário da Legião Italiana Garibaldina (1914), tendo combatido na 1ª Guerra Mundial, nomeadamente na Batalha de Argonne (França). Foi feito prisioneiro pelos Austríacos e permaneceu no Campo de Prisioneiros de Mauthausen (Áustria) até ao fim do conflito da 1ª Guerra Mundial (1918).
Amilcare Bargossi deu a seu filho, o nome do seu grande amigo Nazario Sauro para perpetuar a sua memória. Nazario Sauro (1880 - 1916) foi um exemplar militar naval italiano, Comandante – de – Fragata da Marinha Real Italiana, patriota convicto, um lutador pela liberdade, expoente do “Irrequietismo Italiano Istriano” e foi fuzilado por traição aos Austríacos no dia 16 de Agosto de 1916. Amilcare Bargossi, mesmo perseguido pela polícia monárquica italiana encontrava-se frequentemente com o seu amigo, Nazario Sauro em Ravena, quando o seu navio de guerra aí atracava, trocava informações consideradas subversivas, material de propaganda dos seus ideais republicanos e de liberdade para os seus amigos correligionários. Valores esses que foram transmitidos a seu filho Nazario Sauro Bargossi, assim como, os valores de lealdade, de tolerância, de capacidade crítica construtiva e de intransigência moral.
Nazario Sauro Bargossi foi um óptimo estudante, formado na área financeira, tendo efectuado uma brilhante carreira na banca italiana, desde simples funcionário a dirigente de topo, nomeadamente na “Banca de Credito Italiana”.
Recrutado, como Oficial militar, prestou serviço no Exército italiano no Corpo Alpino – Guarda de Fronteira – e na Córsega.
Inicia então, a sua colaboração activa com grupos opositores ao fascismo italiano, em especial com o grupo opositor denominado “Justiça e Liberdade”.
Em 1943, liga-se às Forças Aliadas que desembarcam na Sicília, depois em Salerno e participa activamente na libertação da cidade de Nápoles, tornando -se “Oficial de Ligação à Milícia Civil Popular Napolitana”.
Foi o primeiro Presidente do Instituto Aurélio Saffi, com a missão de divulgar a vasta obra deste político republicano italiano. Ao longo da sua longa carreira bancária, que exerceu em várias cidades italianas, foi fundador de várias Lojas Maçónicas italianas, contribuindo para a propagação dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Na sua vida, ainda foi um membro activo do Partido Republicano Italiano e da Associação Mazziniana Italiana. Publicou a biografia e divulgou a obra de Aurélio Saffi, seu conterrâneo.
Em 1946, foi um dos fundadores do Movimento Federalista Europeu (MFE) com Altiero Spinelli (fundou as filiais de Ancona, de Ferrara e de Forlì, a qual tem o seu nome).
Depois do Golpe Armado de Pinochet no Chile (1973), contra o Governo Democrático e Popular de Salvador Allende tornou-se Presidente da “Comissão Italiana Para Um Chile Democrático”.
Faleceu na cidade de Bolonha no dia 28 de Outubro de 1988.

Quando faleceu, Nazario Sauro Bargossi deixou dois filhos; um filho, de nome Alberto Mario Bargossi e uma filha, de nome Maria Luisa Bargossi.
Actualmente a filha Maria Luísa Bargossi, Arquitecta de profissão, educada no espírito.
Mazziniano e Republicano, de Tolerância e de Liberdade, exerceu desde muita nova de idade, intensa actividade política em Forlì, inicialmente no Partido Comunista Italiano e depois no Partido Democrático. É actualmente Vereadora da Autarquia de Forlì.
O filho, Alberto Mario Bargossi, nasceu na cidade de Bolonha, no dia 11 de Março de 1948, desde muito novo embebido nos ideais de Tolerância, Lealdade e Justiça incutidos pelo seu pai Nazario Sauro Bargossi, foi um activo anarquista – republicano enquanto estudante de Medicina na Universdade de Bolonha, nunca descurou os estudos, tendo-se licenciado em Medicina e Cirurgia em 1977, com a classificação máxima. É Especialista em Higiene e Medicina Preventiva, em Cirurgia Geral, em Patologia Clínica (1983) e em Medicina do Desporto (1986).
Exerceu a sua carreira médico-profissional no Hospital Universitário Sant`Orsola – Malpighi da Universidade de Bolonha. Foi Director do Serviço de Patologia Clínica (1981 - 2006) e reformou-se em 2006, como Dirigente de 1º Nível do Serviço Nacional de Saúde Italiano.
Foi Professor Contratado de Patologia Clínica da Escola de Especialização de Medicina do Desporto da Universidade de Bolonha (1986 - 1998) e “Visiting” Professor da Universidade de Gd`ansK.
Publicou, até ao momento, inúmeros artigos/trabalhos científicos nas áreas da Patologia e Química – Clínica Aplicada, da Medicina do Desporto e da Nutrição Humana.
Desde 1975, é Consultor da Federação Italiana de Luta (Greco-Romana e Estilo Livre), e de Judo – Comité Olímpico Nacional Italiano e ainda da Federação de Ciclismo Italiana – Comité Olímpico Nacional Italiano. De 1992 a 1998 foi Consultor da Federação Italiana de Futebol – Comité Olímpico Nacional Italiano. De 1999 a 2006 foi Consultor da Federação de Ciclismo Italiana – União Ciclista Internacional, para o Controlo de Substância Abusivas.
Exerceu vários Cargos de Direcção em inúmeras Sociedades Científicas Italianas e Internacionais (Presidente da Associação Italiana de Fitness e Medicina, Membro do Colégio e ex. Presidente da Associação Italiana de Ciclismo).
Nos últimos anos tem desenvolvido intensa actividade de divulgação dos ideais maçónicos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade na região Emília – Romana, tal como seu pai fizera anteriormente.

Atendendo à vida exemplar de luta permanente contra a ignorância, a prepotência, com uma enorme firmeza de carácter, de justiça e de luta pelos ideais de Liberdade, Igualdade e Solidariedade de Nazario Sauro Bargossi e de Alberto Mario Bargossi, é fácil agora entender a escolha do nome simbólico maçónico de Alberto Bargossi.

Autor: Alberto Bargossi

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pentagrama

Constituindo o Pentagrama um dos Símbolos mais carismáticos da Maçonaria, pareceu-me oportuno fazer uma reflexão sobre este símbolo, para o que me socorri do apoio da Respeitável Loja "Os Fiéis Obreiros da Baixa Califórnia".
Assim, os algarismos 1 e 2 na parte lateral esquerda de um Pentagrama representam o Masculino e o Feminino. No ângulo superior encontra-se o signo de Júpiter. Nos braços está o signo de Marte, símbolo da força. No centro encontra-se o caduceu de Mercúrio - representando a espinha dorsal e os signos de Vénus e Mercúrio. Nos lados do caduceu estão o Sol e a Lua. As duas alas representam a ascensão do fogo sagrado ao longo da espinha dorsal, como no tantrismo e na alquimia sexual. Aos pés do Pentagrama aparece o signo de Saturno. A espada é o falo masculino. Mas também ali se encontram a Chave e o Selo de Salomão. Cada uma das cinco pontas representa um elemento - Ar, Fogo, Terra, Água e Espírito. As letras gregas alfa e ómega representam o princípio e o fim. O Cálice simboliza o vaso da abundância, que contém a bebida da imortalidade. Por outro lado, penta significa cinco em grego, alfa é a primeira letra daquele alfabeto e grama significa letra na mesma língua.
Hoje participámos, pois e uma vez mais, numa sessão pletórica de significado.

Autor: Álvaro

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Carlos

Para o bem e para o mal nasci Angolano, Angola foi e será sempre a terra do meu coração.
Como alguns saberão vivi uma parte dolorosa da história daquela terra, o que não me faz esquecer as muitas e gratas recordações que dela também tenho. Lembro-me das farras aos sábados e das madrugadas de domingo, que se lhe seguiam, passadas na praia cantando. Eram das poucas ocasiões que tínhamos para estar em grupos sem que a policia nos considerá-se incómodos para o regime vigente.
Uma das músicas obrigatórias era Muxima cuja tradução para português significa coração pois a considerávamos um hino a Angola, tocada e cantada na praia olhando o nascer do Sol sobre a baía de Luanda, respirando tranquilidade, ouvindo aquela guitarra e a voz de soul de Liceu, um dos músicos de serviço e autor da mesma.
Numa farra perguntei a Liceu porque todas as suas canções eram em kinbundo, dialecto que eu não entendia e se tal não constituía um perigo para um território geograficamente dividido por rios, com vários grupos étnicos e dialectos
Liceu sorriu, e disse-me, é o dialecto que domino e é o que o povo daqui entende.
-- De chofre pergunta-me:
-- Que achas da música?
-- Respondo:
-- Sente-se, vive-se, e ver as mães a dançar como se estivessem a embalar crianças, só tu arranjavas esta coreografia, e só sendo africano se pode ter este sentimento.
-- Pois, fico satisfeito por brancos gostarem da minha música, é de propósito.
-- Porque?
-- Temos de lutar por uma sociedade multicultural, somos angolanos.
-- Insisto, porque não em português?
-- Não te preocupes. Se o português não for a nossa língua oficial nunca seremos um País.
-- Tens razão, vou dançar este merengue.
Curiosamente este homem nascido na Republica Democrática do Congo (um de 24 irmãos) tinha sido registado Angolano, e eu nascido numa cubata no Bembe, norte de Angola, tenho no bilhete de identidade nascido no Fundão, pois meu pai recusava que os filhos fossem brancos de segunda.
Conhecido por Liceu Vieira Dias, ou simplesmente Liceu, alcunha dada por ter sido um dos primeiros negros angolanos a terminar o secundário no Liceu Salvador Correia, foi preso no final da década de cinquenta, e desterrado mais de uma década no campo de concentração do Tarrafal em Cabo-Verde, pela sua luta pela Liberdade e Independência de Angola, à qual sempre se manteve fiel.
A sua grande sensibilidade musical e cultural, assumindo a oralidade tradicional africana, fá-lo iniciar um trabalho de resgate cultural, procurando relançar músicas tradicionais e a elas dar arranjos modernos sem perder as suas essências originais.
Reconhecido como o pai da música angolana criou o género rítmico-canção denominado por semba. Deve-se-lhe ainda a introdução do reco-reco e das congas na música e ritmos de Angola sendo na viola acústica que mais se evidenciou.
Iniciou a carreira artística em 1947, fundando a banda musical Ngola Ritmos, o seu veículo de intervenção.
Liceu Vieira Dias um dos fundadores do MPLA, manteve-se coerente na defesa dos seus princípios e valores, como a liberdade, o multiculturalismo, a não violência e o diálogo. Com efeito os caminhos seguidos de confronto e de partido único baseados em concepções importadas sempre contaram com a sua oposição mantendo-se fiel a um modelo pluricultural e pluriracial para Angola baseado numa evolução com Liberdade. Assim em 1975 no congresso do MPLA em Lusaka, procurando evitar a guerra civil iminente, torna-se dissidente formando com outros moderados o movimento denominado Revolta Activa.
Este homem simples, que muito me ensinou da cultura angolana, e com quem aprendi que a defesa dos valores e princípios fundamentais em que acreditamos não têm preço tinha como seu primeiro nome Carlos.
É em sua homenagem que escolhi o meu nome simbólico.

Autor: Carlos

SABER MAIS:
Liceu Vieira Dias nasceu a 1 de Maio de 1918, na República Democrática do Congo. É unanimamente considerado o “pai da música popular angolana”. Tendo as violas acústicas como base, ele introduziu a dikanza (reco reco) e as ng’omas (tambores de conga) nas suas canções. A sua carreira musical começou, em 1947, quando, com Domingos Van-Dúnem, Manuel dos Passos, Mário da Silva Araújo, e Nuno Ndongo fundou o Ngola Ritmos, um grupo “histórico” da música popular angolana.
Três anos depois, a banda é reforçada com Amadeu Amorim, Belita Palma, Euclides Fontes Pereira, José Cordeiro e Lourdes Van-Dúnem. As músicas eram cantadas em kimbundu acompanhadas de violão e percussão. O seu som tornou-se muito popular na década de 50, sobretudo nas áreas urbanas, onde a audiência era favorável à sua mensagem politizada e nacionalista. O filho Carlitos Vieira Dias é o sucessor do enorme legado histórico e musical de Liceu Vieira Dias.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Santo

Como é consabido, o significado da linguagem maçónica afasta-se daquele que é vulgar e generalizadamente utilizado no mundo profano. Vem isto a propósito da palavra "santo" que quer dizer "puro" e "escolhido". Ocorreu-me esta analogia porque os Maçons são, na sua essência, homens de bons costumes e que são escolhidos para enformarem a comunidade a que pertencerão. Em hebraico, por exemplo, santo diz-se "kadosch", que é o nome do trigésimo grau maçónico filosófico no Rito Escocês Antigo e Aceite. E embora a Maçonaria não venere os santos da Igreja Católica, na maçonaria filosófica existe um grau denominado de "Santo André". Santificado significa, pois, sancionado, aquele que é escolhido e aceite. Afinal, como escolhidos e aceites são todos os Maçons. E uma vida santificada significa viver exteriorizando amor ao próximo, que é uma das virtudes maçónicas por excelência. Veja-se, pois, como palavras iguais assumem significados diferentes consoante sejam proferidas no mundo maçónico ou no mundo profano. Seria, por exemplo, verosímil ouvir-se dizer a um profano que tivesse terminado uma obra que os trabalhos decorreram de forma justa e perfeita? Não! Mas é isso precisamente que acontece na Maçonaria.

Autor: Álvaro